terça-feira, 18 de dezembro de 2012

1982 - Vincent

O curta Vincent é praticamente um documento biográfico de seu realizador: Tim Burton. Ele é fã do lendário Vincent Price e o pequeno e deliciosamente bizarro personagem título do filme tem uma aparência muito próxima do diretor. O gótico e o apelo romântico para a solidão, dão provas de que assim como o pequeno Vincent Malloy, Tim Burton queria ser Vincent Price, e esse curta nada mais é que a declaração de amor do diretor ao gênero, à veia cinematográfica que segue com tanto afinco e a todos os gênios que fizeram do terror mais do que um gênero.

Feito no início dos anos 80, quando Burton trabalhava nos estúdios de animação da Disney, Vincent até hoje consegue encantar. Diferente talvez dos últimos trabalhos do diretor que não possuem a mesma simpatia. Ele como diretor autoral fez ótimos filmes, além desse, e para quem acompanha sua carreira desde o início, em Vincent temos o embrião do que seria o homem por trás deO Estranho Mundo de Jack e Edward Mãos de Tesoura. Todo contado em forma de poesia, que combina muito bem com menções a Edgar Alan Poe, o filme é o retrato da imaginação.

O personagem título é definido e desenvolvido através de toda influencia que recebeu da cultura, nesse caso, principalmente das palavras de Alan Poe. A vontade de criar um cão zumbi ou fazer uma estatua de cera da própria tia remetem aos grandes ídolos desse cinema. Logo de cara ele mescla a um filme infantil os elementos do cinema de terror dos anos de ouro do cinema.

O que predomina em toda a narrativa é a relação entre a imaginação do garoto que enxerga o mundo de uma forma – a forma que viu em filmes ou na literatura – em contraste com a realidade. Ele não é um ser cruel ou abominável, mas é apenas diferente, não se encaixa.

Burton consegue tratar disso com uma naturalidade saudosista deliciosa. E foi o que ele conseguiu pregar no cinema em seus primeiros filmes. Tanto que chegou a contar a história de Ed Wood e de quebra pode ter seis ídolos em seus filmes, como por exemplo Christopher Lee e o próprio Vincent Price, que narra o curta. E Price, como grande ícone, consegue com sua voz gutural nos envolver com aquilo tudo. Não apenas nos movimentos caprichados do stop motion, mas também na interpretação de Price, o que temos em Vincent é amor puro exalado em pouco mais de 5 minutos de filme.

E isso porque Vincent consegue causar uma certa identificação com o público no que diz respeito justamente a essa imaginação e influencias moldando o que realmente se quer ser. Burton conseguiu por isso em palavras e em imagens, e Vincent Price conseguiu dar voz a tudo isso. O final é maravilhoso e conclui essa ideia, ainda mais quando tem aquela intromissão dos pais, com aquele controle todo sem ao menos se importar se isso mesmo o que a criança quer.

Tudo no filme gira em torno desse lado inocente em conjunto com os pensamentos de liberdade individual do protagonista. E Vincent sabe como ninguém que sua vida pode se resumir em solidão ou em vilania pura, mas ainda assim, bem como fica claro com o filme, trata-se de uma vontade e que mesmo que reprimida, existe, e sendo coisa de criança, é mais doído tirar essa ideia do que quando se é maduro. Tim Burton trouxe essa roupagem gótica a seus melhores trabalhos – hoje infelizmente ele é mais uma marionete dos produtores do que um realizador criativo como antigamente – e Vincent é o embrião de toda sua carreira.

Relações como a própria inocência ou a solidão e o resgate a nostalgia de suas influencias, nesse caso o terror, que estão presentes até hoje em muitos filmes dele, partiram daqui, um curta tão belo e delicioso, que dá vontade de ser criança novamente e curtir todas aquelas dúvidas e angústias. Que tempos bons eram aqueles…


Fonte: http://cinetoscopios.com/



"Vincent Malloy tem sete anos é simpático e faz sempre o que lhe dizem. Para um rapaz de sua idade, é atencioso agradável, mas o sonho dele é ser como Vincent Price. Não se importa de viver com a sua irmã, cão e gatos, mas preferia partilha a casa com aranhas e morcegos. Ali poderia refletir nos horrores que tinha inventado e andaria por becos escuros só e atormentado. Vincent é agradável quando a sua tia vem de visita, mas imagina mergulha-la em cera, para expor no seu museu. Gosta de fazer experiências com seu cão Abacrombie na esperança de criar um zombie horrível, para que ele pudesse procurar vítimas no nevoeiro de Londres. No entanto os seus pensamentos não são só de crimes violentos, gosta de pintar e ler para passar o tempo. Enquanto os outros garotos lêem livros como “Go Jone Go”, o autor preferido de Vincent é Edgar Allen Poe. Uma noite Enquanto lia um conto espantoso, leu uma passagem que o fez empalidecer, uma noticia tão má que não podia agüentar, sua bela esposa tinha sido enterrada viva. Cavou sua tumba para se certificar que estava morta, inconsciente que a tumba, era o jardim da sua mãe. A mãe mandou para o quarto de castigo, ele sabia q tinha sido enviado para a torre do inferno, onde seria sentenciado a passar o resto da vida sozinho com o retrato de sua bela esposa. Só e enlouquecido na sua prisão. A sua mãe entrou no quarto de repente, e disse:


“Se quiser, pode sair e brincar tem sol lá fora e esta um dia lindo.”

Vincent tentou falar, mas não conseguiu. Os anos de isolamento deixaram-no muito fraco. Pegou num papel e escreveu com uma caneta:

“Estou possuído por esta casa e nunca poderei sair.”

E sua mãe respondeu,

“Não está possuído, nem está quase morto, este jogo está só na sua cabeça, nçao é o Vincent Price, é o Vincent Malloy, não está atormentado ou louco, é só um garotinho, tem 7 anos, e é meu filho, quero que vá lá fora brincar.!

Sem raiva, deixou o quarto. Enquanto Vincent se encostou lentamente na parede, o quarto começou a tremer, tremia e chiava, a sua horrenda loucura tinha chegado ao máximo. Viu Abracrombie, o seu escravo zombie, e viu a sua esposa que chamava do mundo dos mortos, ela falava do caixão e fazia pedidos terríveis, enquanto pelas paredes rachadas, saiam mão de esqueleto. Todos os horrores que atormentavam os seus sonhos levaram o seu riso louco a gritos de terror. Para escapar da loucura tentou chegar à porta, mas caiu moribundo no chão. Com voz suave e muito lentamente, recitou “ o corvo” de Edgar Allen Poe:

“...e a minha alma para fora desta sombra...

...que flutua sobre o chão...

...não se levantará...
...NUNCA MAIS.”

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